soplo
Realizada em 2024 no Núcleo Contemporânea na cidade de Madrid-Espanha, a exposição contou com o trabalho de 11 artistas em diferentes fases de produção. Uma exposição coletiva que reuniu obras em diferentes linguagens e temáticas
Curadoria e Texto: Roberta Stubs
Fotografias: Ana Cunha
SOPRO
Uma brisa, um bafo, uma lufada de ar. Um sopro de vida que se alastra, alimenta o fogo, levanta a poeira e atravessa frestas operando aberturas, dissensos, dilatações e reconfigurações da experiência comum do sensível. Seria o sopro um desejo de ar? Nessa exposição soprar é movimentar um desejo de criação, diz de um ar que sai de dentro e se converte em tormenta e furação quando se depara com as forças do mundo. O filósofo Didi-Huberman[1] nos convida a aproximarmos nossos rostos das cinzas de nosso tempo e soprar suavemente para que a brasa, sob as cinzas, volte a emitir seu calor, seu resplendor, seu perigo. Soprar é inflamar o verbo, e o ar é combustível que impulsiona movimentos de transformação e revela a germinação de uma outra imaginação política. É como um vento que aponta direções e movimenta o tempo e o espaço que os trabalhos aqui presentes se configuram como uma corrente de ar que suspende o ordenamento do mundo ao propor outros regimes de sensibilidade. Identidade racial; imigração; vulnerabilidade, esgotamento e resiliência em um mundo colonizado pela branquitude; a ficção que subjaz ao discurso de dominação de territórios, corpos e culturas; movimentos de cura que nascem da conjugação entre saberes populares e científicos, figuram entre os temas abordados pelos 11 artistas dessa exposição. Fotografia, escultura, objeto, bordado, aquarela e vídeo-instalação são alguns dos meios utilizados para apontar outras paisagens do possível e nos lançar questões que fazem arder uma certa configuração de mundo que urge ser outro. Conseguem sentir a brisa, as cores e o calor destes ares que já revelam as mutações de um tempo em transformação?
Roberta Stubs
[1] DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tocam o real. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, 2012, p. 206-219.