em tempos de opacidade
Realizada em 2022 no Centro de Ação Cultural (CAC), a exposição contou com 16 obras de artistas de diferentes gerações e regiões do Brasil. Em tempos de opacidade foi uma realização da Secretaria Municipal de Cultura de Maringá, em parceria com o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-Paraná) e com a Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Artistas: Antônio Dias, Amilcar de Castro, Bruno Moreschi, Carlos Zílio, Cleverson Salvaro, Dulce Osinski, Eduardo Freitas, Eliane Prolik, Elida Tessler, Guita Soifer, Ivens Fontoura, Marcello Nitsche, Marcos Chaves, Rodrigo Braga, Túlio Pinto e Vânia Mignone
Obras: acervo MAC - Paraná
Curadoria e Texto: Roberta Stubs
Fotografias: Bulla Jr.
Crises, disputas, avanços e retrocessos. Que tempos são esses que nos desafiam a seguir lutando, apesar do luto? É para a complexidade do presente que lançaremos luz nessa exposição. Gesto que já se destina a falhar, pois o que vemos e o que nos atravessa expressa-se muito mais como nuvem de opacidade que oblitera nossas certezas. É sem pretensões de totalidade que o arranjo curatorial aqui apresentado se propõe a criar clarões. Bolsões luminosos que revelem campos de tensão nos quais presente, passado e futuro se encontram na encruzilhada do agora.
Selecionadas a partir do acesso ao acervo do MAC-Pr, principal museu de arte contemporânea do Estado do Paraná, 16 obras de artistas de diferentes gerações e regiões do Brasil desenham modos possíveis de atravessar a espessura do presente. Pensada em 3 vórtices de forças abertas e intercambiáveis, os trabalhos aqui reunidos forjam um campo de sentido e sensibilidade que fundam modos de significar e vibrar. Constituem erupções artísticas que questionam os limites de nosso tempo e instauram frestas pelas quais podemos nos mover. Fraturam nossas certezas e abrem fossos para perguntas que precisam ser feitas: Como resistir às forças que tentam nos calar e sufocar? Como manter o corpo vivo e inventar desvios que comportem transbordamentos? Como fabular futuros?
Tempos transversos sintetiza o furor do primeiro vórtice dessa exposição. Transver se torna operação para gerar descompassos na ilusão das aparências. Faz ver o avesso de um discurso político que colapsa na medida em que transparece o jogo omisso que o sustêm. Armas de brinquedo e a ferrugem que toma o tecido de um lençol feito bandeira redimensionam o potencial corrosivo de um governo/política que com ferro, fere.
No segundo vórtice, adentramos numa zona de tensão e vulnerabilidade. Um frágil equilíbrio parece amparar a linha tênue que sustenta uma ficção política forjada para domesticar curvas. Diferentes pesos e medidas se equilibram numa estabilidade em eminência de queda. Pedra, vidro e ferro escalam uma equação que oxida a transparência da incerteza.
Como uma fala inacabada, o terceiro vórtice insurge enquanto corpo sensível, exposto e, acima de tudo, vivo. Com os poros em flor somos tragados pelo turbilhão da experiência do presente. Em comunhão, o avesso da pele fica a mostra e espasmos de um grito mudo quebra a barreira do silêncio na propulsão de movimentos aberrantes.
Se em tempos de opacidade a perspectiva de imaginar horizontes nos é subtraída, as confluências e fricções entre os trabalhos aqui reunidos se mostram como força motriz de complexidades e cintilâncias para tatear um presente que não é dado à simplificações.