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das coisas que esquecemos de lembrar

A proposição  “Das coisas que esquecemos de lembrar” é um convite a reflexão sobre a experiência do olhar. Nesta exposição a artista flerta com o contemplativo e com o interativo e nos lançam numa reflexão sobre a memória.Temos um filme dentro de um filme, temos imagens ampliadas. Sobre os monóculos, nos colocamos a pensar no fascínio que eles causam: o de transformar em objeto a evanescente matéria das lembranças. Selamos nestas pequenas lunetas plásticas cenas congeladas em filme e as quais passamos então a guardar na concha das mãos, nos bolsos, nas gavetas, no fundo de armários antigos... E por ser objeto podemos perder o que esquecemos. Mas, por ser objeto, quando encontrado, podemos também lembrar do esquecido? Que memórias pode uma imagem guardar? O que fica de fato guardado nos contornos de uma imagem? Estas interrogações são reverberações da própria procura da artista. O encontro de Stubs com os monóculos é carregado por um mergulho em sua história pessoal e afetiva: em um deles ela encontrou uma foto de sua mãe que faleceu quando a artista tinha 3 anos. O monóculo é o buraco da fechadura do tempo pelo qual a artista espia. Contudo, a cena capturada em foto conta tanto quanto esconde. E esse prisma plástico, pelo seu próprio modo de operar, parece dar conta de nos apresentar a ambos: para se ver em um monóculo é preciso fechar um olho. Assim, as imagens expostas nos dão elementos razoavelmente reconhecíveis - como endereços que nos apontam a uma direção – mas elas também guardam uma sedutora borda de imprecisão. Esta neblina que a artista faz questão de manter não é defeito ou acidente de produção. Ao contrário, é efeito estético deliberadamente provocado, como se Stubs quisesse dizer que é neste borrão e não no foco, que talvez habite a resposta de nossa procura. Neste neblinado vão, procuramos o fio invisível sem o qual contas não são colar. Aos contornos esfumaçados pelo tempo, lançamos nossos olhares curiosos e como crianças jogamos o jogo de adivinhar formas em nuvens. Nas franjas destas cenas costuramos um enredo provisório chamado lembrança. Lembrar é inventar. A exposição torna-se assim um campo de exploração que não se entrega ao olhar do explorador. O que temos são pontos de sugestão e inspiração, de aguçamento e sedução que oferecem uma interlocução na trama de múltiplas lembranças co-construídas. Lembrar é inventar. Lembrar é também pertencer.

Texto de apresentação da exposição, escrito por Murilo Moscheta, 2012

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